O lugar onde as ideias vão para morrer
Deve haver um lugar, entre o céu e a terra, no campo do etéreo, onde as ideias vão pra morrer. Já parou pra pensar? Pra onde vão todas aquelas ideias que nunca deixam de ser ideias? Que são pensadas - seja num lampejo, seja fruto de muito esforço - pra ganharem vida, rumo, forma… mas ficam ali, suspensas no ar. Sendo… apenas… ideias.
Pra onde vão todas elas? Todas aquelas ideias que nunca ganharam vida, seja por medo ou falta de tempo. Que nunca tomaram corpo por não fazerem o tipo de outro alguém. Que nunca pisaram no chão por falta de verba ou de visão. Todas aquelas ideias que a gente guardou pra se guardar do risco do ridículo. Todas aquelas ideias que nove pessoas amaram mas uma odiou. Todas elas, que eram boas, todas elas que eram ruins.
Será que existe um disco rígido do universo, uma lixeira na nuvem da existência, um rascunhos salvos esperando que as antenas de outra mente vivendo o mesmo zeitgeist capte as ondas no ar e consiga regar essa ideia-semente? Onde fica essa nuvem etérea? Será que, quando chove, o céu está descarregando o peso de tudo o que não-foi-mas-poderia-ter-sido? Como será a contagem de bytes? Quanto espaço no disco rígido da nossa mente é ocupado pelas ideias que ficaram fadadas a serem apenas ideias? Na memória da memória, no flash drive do inconsciente, como será que elas estão armazenadas? Algumas viram um .txt da ideia embrionária, uns poucos bytes perdidos em alguma pasta. Outras são um Kenoyte completo, com moodboard de referências e notas de rodapé. Com anexos e bibliografia. Com textos e fotos e vídeos e rafes. Pesando e ocupando espaço - com essa ideia-zumbi rodando em segundo plano -, eventualmente fazendo travar o sistema operacional. As ideias, essas, que não encontraram o caminho de lá. Do lugar onde as ideias vão para morrer.
Eu li num livro da Elizabeth Gilbert (talvez Grande Magia) uma teoria bem interessante... é mais ou menos assim: ideias são organismos vivos que buscam humanos como meio para serem manifestadas no mundo físico, e quando o humano escolhido "negligencia" por qualquer motivo a ideia, ela parte pra outro. Isso, pra mim, explica a questão de pessoas em lugares diferentes do mundo tendo a mesma ideia, mas nem todos colocando ela em prática. Quem for mais rápido e/ou comprometido com a ideia em questão, manifesta ela no mundo. Sei lá, achei bonito, gostei, adotei a ideia pra mim - e agora faço coro e propago a ideia no mundo.